INTRODUÇÃO
A apologética foi de extrema importância para a expansão da igreja, e homens considerados pais da Igreja são exemplos clássicos dessa importância para o cristianismo. De modo simples, a apologética funciona como uma ferramenta para entendermos por que cremos em Jesus Cristo e, consequentemente, nas Escrituras Sagradas como regra de fé e prática, além de sermos capazes de explicar nossa fé para amigos, vizinhos e familiares. Podemos discutir diversos fatores que nos levam a ter convicções em nossa fala quando nos deparamos com pessoas que não sabem se são católicas, espíritas, budistas ou hinduístas. A apologética também é importante para esclarecer aos nossos amigos não cristãos que, embora se considerem inteligentes e cultos, frequentemente se apegam a fábulas e mitos religiosos sobre Jesus Cristo. Esses indivíduos duvidam da veracidade do Cristianismo e, como consequência, não aceitam que a salvação da humanidade esteja em Jesus Cristo.
O maior desafio reside na convivência entre a "Fé e a Razão". Através da obra de Geisler (Christian Apologetics, 2nd Ed), poderemos abordar de forma mais abrangente os pontos que estão no limite de nossa atuação ministerial. Faremos, inicialmente, uma abordagem resumida para conhecer melhor a prática da apologética relatada pelo autor.
A IDEIA E A PRÁTICA DA APOLOGÉTICA CRISTÃ
A obra de Geisler, intitulada Christian Apologetics, 2nd Ed, está dividida em três partes bem delineadas, a saber:
Parte 1 - Metodologia: Agnosticismo; Racionalismo; Fideísmo; Experiencialismo; Evidencialismo; Pragmatismo; Combinacionalismo; Formulação de um teste adequado para a verdade.
Parte 2 - Apologética Teísta: Deísmo; Godismo Finito; Panteísmo; Panenteísmo; Politeísmo; Ateísmo; Teísmo.
Parte 3 - Apologética Cristã: Naturalismo e o sobrenatural; Objetivismo e História; A confiabilidade histórica do Novo Testamento; A reivindicação da divindade e autoridade de Jesus Cristo; A evidência da divindade e autoridade de Jesus Cristo; A Inspiração e Autoridade da Bíblia.
Geisler apresenta uma literatura muito sistemática, com o intuito de defender de forma organizada a fé cristã, seguindo pensamentos clássicos de figuras como Agostinho, Anselmo, Tomás de Aquino, João Calvino, Jonathan Edwards, B.B. Warfield, Kenneth Kantzer e muitos outros. Ele abrange uma série de visões de mundo e testes de verdade que cobrem boa parte de nossas necessidades contemporâneas.
Ao discutir vários temas que levaram ao uso da apologética, Geisler desvendou os métodos e estratégias formados no período inicial da era cristã até o momento que culminou no maior embate de nossa era, que é um dos maiores desafios da igreja, com a ascensão principalmente do Iluminismo, movimento intelectual e cultural dos séculos XVII e XVIII, com suas ideias racionalistas (a razão humana é o único meio de conhecimento e explicação da realidade).
Apoiada pelas forças da teoria evolucionista de Charles Darwin (1809-1882), que buscava explicar a origem das espécies por meio da seleção e evolução natural, essa perspectiva permitiu a difusão, nos ambientes acadêmicos e científicos, da ideia de que fé e razão são opostas entre si. Consequentemente, defendeu-se que ciência e cristianismo são mutuamente excludentes.
No centro dessa temática está a discussão dos que defendem que a humanidade, com tanta ciência ao seu dispor, não precisa mais de explicações sobrenaturais para entender como o universo surgiu e se desenvolveu. O que Geisler nos faz entender nessas questões é que o centro da defesa da fé cristã, de modo prático, não passa por provar Deus e seus feitos, até porque a Bíblia não sugere ser um livro para comprovações científicas. Estão enganados todos os que assim esperam que as Escrituras Sagradas pretendem fazer.
A evolução do pensamento humano revela a incapacidade de compreender o que está além de sua capacidade mental. Isso porque toda explicação desejada sobre Deus – sua existência, forma, lugar, início – não é possível por meio de análises empíricas e laboratoriais. O método científico e o uso da razão não podem dissecar Deus em uma mesa de laboratório.
Geisler aponta que, desde o tempo dos apóstolos, esses pensamentos foram reinventados em nossos dias. Isso se aplica a todos que negam a existência de Deus; negam a possibilidade de que o universo tenha sido criado e projetado por Ele; negam a existência de uma moralidade e uma verdade absolutas; negam a encarnação do Filho de Deus, sua morte e ressurreição; negam a fidedignidade histórica da Bíblia como fonte de evidências sobre a existência de Deus e seu modo de agir.
De maneira didática, Geisler reúne as ideias da apologética histórica, assim como da apologética clássica. O objetivo de seu texto é demonstrar as evidências que tornam o Cristianismo uma religião autêntica. Ele também faz uma abertura ao nível dos pressuposicionalistas, que usam como pano de fundo as pressuposições do incrédulo. Neste contexto, é abordado o núcleo central da questão, que é a validade da evidência para apoiar a verdade. É importante basear o trabalho na cosmovisão cristã geral da pessoa que faz a interpretação. Para Geisler, enquanto os apologistas históricos acreditam que os fatos históricos são evidentes no contexto histórico, os pressuposicionalistas puros insistem que nenhum fato é evidente; todos os fatos são interpretados e exigem uma estrutura de cosmovisão cristã para uma compreensão adequada. Assim, se não existem critérios claros para apontar uma verdade e uma falsidade, nenhuma citação pode ser defendida, pois até mesmo as opostas podem ser verdadeiras.
Geisler aborda que a filosofia, como conhecemos hoje, pressupõe a validade geral dos argumentos céticos de Hume e de Emmanuel Kant, que eram pensadores racionalistas, e esses acabaram mantendo os agnósticos. Isso significa, necessariamente, a apresentação de dois tipos de afirmações sobre Deus. Para o teísmo, Deus é um ser autocausado. Isso é totalmente contraditório ao que antes acreditavam os teístas, que definiam Deus como um ser “causado”. Os ateus também acreditam que o universo é um ambiente incausado e que sempre existiu, levando a uma discrepância entre as definições: se Deus não é um ser autocausado, a refutação é completamente falha. Para isso, utiliza-se o método da refutação teleológica de Deus, para explicar a existência de Deus ou não: Primeiro, pensa-se que o universo foi projetado por alguém ou alguma coisa - ou aconteceu por acaso; pode o acaso ser a causa da existência do universo e da complexidade que o cerca? Portanto, o universo não pode ter sido projetado.
A dinâmica da discussão na prática da apologética se concentra na pessoa de Deus e, se não há nenhum Criador, tecnicamente, nenhum ser humano pode ter sido criado – somos obras do acaso, não fomos criados. Na obra literária intitulada “Reconstrução na Filosofia”, Dewey cita que homens e mulheres pensam em termos científicos e seculares, logo, agora devem ter uma visão naturalista das origens. A humanidade é resultado de processos naturalistas evolutivos, e não da criação especial de qualquer tipo de Deus.
Mais adiante podemos aprender com Geisler a respeito do cerne da evidência da ressurreição de Jesus Cristo e a forma convincente de defendê-la dentro do Cristianismo, que é a matriz da existência da religião e da fé cristã – esse também será tema elucidado em minha abordagem para meu cenário ministerial no desenvolvimento dessa pesquisa, nos tópicos abaixo.
Geisler salienta a ideia central das testemunhas oculares que confirmam ter visto Jesus Cristo após sua morte física. No entanto, isso não foi suficiente para provar nada, uma vez que as objeções à ressurreição são muitas e se apoiam em vários aspectos. Alguns afirmam que isso seria um milagre, e milagres não têm explicação racional – não podem ser reproduzidos em laboratórios. Contudo, é óbvio que houve muitos que relataram de forma clara o desaparecimento misterioso do corpo de Jesus do túmulo e que depois o viram em várias ocasiões. A ortodoxia desse fato consiste na ideia central de que Jesus Cristo ressuscitou no mesmo corpo físico anterior, e carrega nele as marcas da crucificação. Dentro do contexto apologético do apóstolo Paulo, está a prova da veracidade dos fatos, defendida por uma perspectiva de valor impressionante — o Cristianismo é falso se Cristo não ressuscitou corporalmente da sepultura. Daí a importância do corpo, ou seja, da ressurreição física de Jesus Cristo, que representa o eixo motriz da religião. Assim, ao se negar essa verdade, afeta a apologética cristã em todas as frentes.
Nas considerações de Geisler, podemos descrever como é importante defender a reivindicação da divindade de Jesus Cristo. A base reside no fato de que o Jesus Cristo no corpo ressurreto é o mesmo corpo físico do homem de Nazaré que foi crucificado na cruz e depositado em um túmulo. Sendo assim, é a única forma de provar que a ressurreição ocorreu, pois o túmulo vazio não prova a ressurreição de Cristo. O desaparecimento do corpo do túmulo também não prova que Jesus Cristo ressuscitou, considerando que o corpo original poderia ter sumido de vez, e as doze aparições posteriores relatadas nos textos bíblicos poderiam ser de outra pessoa ou da mesma pessoa morta na cruz, mas em outro corpo. A identidade de Jesus Cristo como Senhor e Salvador depende da conexão entre o corpo pré e pós-ressurreição; sem isso, o valor apologético da ressurreição é destruído. Portanto, chega-se a uma conclusão substancial de que, se Cristo não ressuscitou no mesmo corpo físico que possuía na morte na cruz e foi depois levado para um túmulo, a ressurreição não provaria a reivindicação de ser também o Deus Salvador.
AS ORIGENS HISTÓRICAS DA APOLOGÉTICA
Na origem da apologética cristã, está o envolvimento do Cristianismo, em nível intelectual, com a filosofia grega. É interessante notar que no século II essa atenção se acentua e passa a interagir com a sociedade romana. Nesse período tão próprio da construção e desenvolvimento da igreja, observamos inúmeros escritores na defesa racional da fé cristã. Poderíamos citar Justino Mártir (c. 100-165 d.C.), um exemplo de conversão porque buscava na filosofia uma verdade.
Os chamados "apologistas" são escritores que, de forma coletiva, se preocuparam em desenhar a defesa do cristianismo contra falsas acusações (por exemplo, que os cristãos eram ateus, sexualmente imorais ou canibais); argumentaram fortemente a favor da verdade do Cristianismo, correlacionando-o com as profecias do Antigo Testamento e essencialmente afirmando que o Cristianismo era superior ou cumpria as ideias filosóficas gregas conhecidas.
No entanto, tudo isso não era uma unanimidade entre os apologistas. Por exemplo, Tertuliano criticou o uso da filosofia grega por Justino, dizendo a famosa frase: "O que Atenas tem a ver com Jerusalém?" Mas essa divisão ainda é presente em nosso contexto. Temos muitos cristãos evangélicos dentro dessa divisão; alguns acreditam que toda a verdade é a verdade de Deus e que é importante defender o Cristianismo no reino do debate filosófico, enquanto outros argumentam que devemos concentrar nossas forças apenas na proclamação do evangelho.
O fato é que a apologética cristã se originou no Novo Testamento, principalmente nos escritos de Paulo, e foi se desenvolvendo ao longo do tempo até chegar ao segundo século, em resposta aos obstáculos encontrados ao romper as fronteiras culturais do mundo greco-romano. Esse eixo foi se desenrolando no tempo histórico e precisou se adaptar aos novos desafios culturais impostos por outras fronteiras transculturais.
O NÚCLEO DA APOLOGÉTICA
As funções da apologética se apoiam em pelo menos três funções básicas, mesmo que não haja uma concordância total entre os apologistas cristãos, é válido citá-las aqui, baseando-nos no conceito de que, para alguns, não devemos construir argumentos positivos para a fé cristã, mas refutar as acusações contra ela e as crenças opostas – o que reflete enormemente as diferenças entre diversas escolas de apologética:
1) Argumentos para a verdade da fé cristã (vindicação / prova / apologética positiva):
- Objetivo: Demonstrar que o Cristianismo é racional. Pretende usar regras filosóficas e evidências da ciência, arqueologia e história para situar a fé cristã em um nível superior a qualquer sistema de crença alternativo existente no mundo.
2) Argumentos refutando acusações feitas contra a fé cristã (defesa / apologética negativa):
- Objetivo: Demonstrar que o Cristianismo não é irracional, excluindo objeções feitas contra a Bíblia, interpretações alternativas de evidências históricas e científicas, e quaisquer equívocos sobre a fé cristã.
3) Refutação de crenças opostas (ofensa):
- Objetivo: Demonstrar que os sistemas de crenças não cristãs são irracionais, visando desconstruir os fundamentos de outros sistemas de crenças não cristãos.
Baseando-se nesse último objetivo (Refutação de crenças opostas), vamos nos concentrar no tema que tem crescido entre os brasileiros nos últimos tempos: a ampla evidência do crescimento fundamentalista, que luta ideologicamente contra diversas correntes não cristãs.
Crenças opostas ao cristianismo
A expressão da fé cristã em nosso contexto está distribuída segundo suas convicções e variadas denominações, ou seja, católica romana, episcopal, pentecostal, luterana, batista, etc. Na mesma frente de organização vêm as religiões não cristãs, com suas divisões. Um exemplo relevante em nosso contexto brasileiro são as religiões de “espiritismo” – que se distribuem, não por denominações, mas por correntes ou doutrinas.
O Espiritismo é dividido em cinco grupos principais:
- UMBANDISTA: Também conhecido como baixo espiritismo. Este grupo compreende:
- Umbanda: É o nome da atual macumba, originada de escravos bantos da África.
- Quimbanda: Famosa magia negra, vinculada à feitiçaria de São Cipriano.
- Xangô: Outra forma de espiritismo afro-brasileiro.
- Babaçuê: Espiritismo de origem africana influenciado pela pajelança.
- Pajelança: Ritual indígena realizado pelo pajé da tribo, semelhante a sessões espíritas, onde ocorrem transe, incorporações de espíritos e mensagens.
- Catimbó: Feitiçaria de origem europeia, influenciada por indígenas e africanos.
- KARDECISTA: Também conhecido como alto espiritismo. Este grupo compreende:
- Kardecista Puro: Segue as doutrinas de Allan Kardec.
-Ruteirista e Ubaldista: Seguem as doutrinas de João Batista Roustang e Pietro Ubaldi, respectivamente.
- Emmanuelista: Influenciado pelos "ensinamentos" de Emmanuel, o espírito guia de Chico Xavier.
- Ramanista e Paganizante: Seguem os ensinamentos do "espírito guia" Ramatis e a tendência espírita liderada por Carlos Bembassy, respectivamente.
- OUTRAS TENDÊNCIAS: De acordo com o "líder" ou "espírito guia", como Yokanam, tia Neiva, etc.
- GRUPO ESOTERISTA: Divide-se em organizações como:
- Rosacruz, Teosofia, Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento.
- Organizações diversas como: Ordem dos Iluminados, Legião da Boa Vontade, Ordem Esotérica do Mentalismo, Gnosticismo, Logosofia e Cultura Racional Superior.
- GRUPO CIENTÍFICO: Espíritas voltados para o estudo da paranormalidade.
Os Kardecistas não admitem ser confundidos com os umbandistas. Contudo, a verdade é que Umbanda e Espiritismo são a mesma coisa. A própria Federação Espírita Brasileira reconheceu essa equivalência (informação "O Reformador", na edição de julho de 1953, pág. 149).
Eis os pontos comuns entre Espiritismo e Umbanda: comunicação com os espíritos dos mortos, os "desencarnados"; a reencarnação; o sofrimento como base para a evolução no progresso espiritual; a prática da "caridade", que acelera esse progresso.
As pessoas que se esforçam para praticar boas obras acreditam que, após a morte, passarão por diversas reencarnações e, eventualmente, viverão em outros mundos como "guias de luz".
REFLEXÃO NO AMBIENTE APOLOGETICO
Ao retornarmos aos objetivos da apologética, focando na refutação de crenças não cristãs, precisamos abordar as falácias dos seguidores do espiritismo.
Eles se consideram cristãos genuínos, pois acreditam praticar um cristianismo primitivo de forma pura e simples, projetando-se como bons cristãos que realizam caridade continuamente. Eles vão além, apostando na transformação interna, buscando combater seus próprios defeitos e aplicar os ensinamentos de Jesus.
Qual é a defesa apologética dessas reivindicações? O cristianismo, em sua forma simples e pura, só tem lugar quando baseado nas Escrituras Sagradas, onde o apelo ao Cristianismo histórico deve ser prioritário.
Os espíritas se contradizem ao alegar que as orientações para suas vidas vêm dos espíritos; isso contradiz a afirmação de serem genuínos cristãos puros e simples. Se Jesus ensinou as verdadeiras leis de Deus, qual a utilidade dos ensinamentos dos espíritos? Poderão eles ensinar algo além do que já foi ensinado por Jesus Cristo?
No nosso ministério, devemos refutar toda ideia e crença oposta ao verdadeiro Cristianismo. Temos a Bíblia como regra de fé e conduta para a vida e para o caráter do cristão. Ao nos depararmos com o credo espírita, que distorce as doutrinas cristãs, podemos reforçar nossa defesa da fé: os espíritas negam largamente a ressurreição corporal de Jesus e da humanidade, negam os milagres de Jesus, a Trindade Santa, a deidade absoluta de Jesus Cristo, a Personalidade do Espírito Santo, a existência de anjos e demônios, o céu e o inferno, o pecado original e a unicidade da vida terrestre. Surge uma pergunta para uma resposta definitiva no campo apologético: Poderiam, realmente, os espíritas ser classificados como cristãos? A resposta é definitivamente não!
A TAREFA DE DESENVOLVER A APOLOGÉTICA CRISTÃ DE FORMA PRÁTICA
Temos a honrosa tarefa de trabalhar persuasivamente na refutação de falsos cristãos. Nosso objetivo também deve ser persuadi-los a acreditar verdadeiramente na mensagem cristã. Esse deve ser nosso propósito mais abrangente em defesa da fé e na proclamação da Palavra do Evangelho — a apologética por si só não é suficiente; o evangelismo também é necessário.
Nesse sentido, precisamos refletir sobre como estamos nos relacionando com aqueles que são crentes e não crentes. Esta tarefa é também fortalecer a fé dos crentes e eliminar os obstáculos à fé daqueles que não acreditam nas doutrinas cristãs evangélicas.
O "Evangelismo" é o compartilhamento da mensagem das boas novas (evangelho) sobre Jesus Cristo. Ao considerarmos o papel da apologética no ambiente, onde podemos construir e desenvolver relações com não cristãos, poderemos ver essa ferramenta como um pré-evangelismo ou parte do processo de evangelismo. Isso equivale a remover barreiras à fé e também a criar um campo muito bem preparado para a semeadura das sementes do evangelho. A construção desse cenário precisa passar pela parceria entre essas duas ferramentas: Apologética e Evangelismo.
É improvável que os não cristãos que se cercam de poderes intelectuais e não aceitam a existência de Deus ou a historicidade de Jesus Cristo aceitem a mensagem do evangelho facilmente. A apologética fará o trabalho árduo de remover as raízes mais profundas, ao utilizar o raciocínio intelectual das pessoas. O êxito dessa tarefa se mostra eficaz, pois uma pessoa pode estar intelectualmente convencida da credibilidade e até da verdade da fé cristã, mas ainda assim não ser cristã. O evangelho apela não apenas para a mente, mas também para os sentimentos das pessoas; sabemos que a conversão ocorre quando mente, coração e vontade são entregues a Deus em arrependimento e fé. A fé vem pelo ouvir a palavra de Deus — um argumento lógico de Paulo, que soube harmonizar muito bem essas duas ferramentas, compartilhando o evangelho em seu tempo e estruturando seu ministério pastoral com argumentos apologéticos.
ABORDAGEM SOBRE O CONHECIMENTO DE DEUS
Ao lidarmos com os adeptos das doutrinas de Allan Kardec, somos constantemente levados a considerar sua credibilidade diante da Bíblia. Os espíritas se atribuem a condição inequívoca de serem a terceira revelação de Deus, que completa as revelações iniciais dadas a Moisés no Antigo Testamento e, depois, através de Jesus no Novo Testamento. Para eles, isso é consumado pelos espíritos.
Ocorre que eles vivem em contradições constantes. Se o espiritismo ensina as mesmas doutrinas que o Cristianismo e assim se proclamam cristãos puros e simples, seria necessário verificar se seus ensinamentos estão em total concordância com os de Jesus Cristo e os apóstolos. Ao analisar o que diz o líder espírita sobre a Bíblia, ficamos estarecidos com a leitura de Kardec, que afirma em sua obra "O Cristianismo e o Espiritismo ensinam a mesma coisa", que o espiritismo é uma revelação que provém de Deus. Portanto, essa revelação deve confirmar o que foi revelado anteriormente.
Nesse contexto, não parece ser exclusivo ao Brasil, pois observamos a negação da revelação divina das Escrituras Sagradas. Ao fazer isso, os espíritas pretendem rebaixar a Bíblia a uma mera compilação sem importância, apenas relatando fatos históricos e lendários em um nível de aproveitamento muito superficial. É necessário entender que, quando afirmam ser cristãos, estão apenas utilizando as Escrituras Sagradas conforme lhes convém para apoiar suas teorias espíritas e nada mais. Para eles, a Bíblia serve apenas como um livro de pesquisa e, portanto, não importa se é ou não a Palavra de Deus, desde que possam usá-la de acordo com seus interesses.
Existem inúmeras maneiras diferentes de abordar a tarefa da apologética no contexto em que os espíritas tentam se igualar aos cristãos, ao mesmo tempo em que usam essa identidade para distorcer o verdadeiro discurso. Não é uma tarefa fácil, mas, seguindo o exemplo do gnosticismo, podemos confrontá-los apresentando a verdade sobre Deus.
Podemos demonstrar a verdade sobre Deus através da razão humana, respondendo a observações sobre o mundo (empirismo), realizando uma avaliação crítica da lógica inerente a diferentes sistemas de crenças (racionalismo), utilizando apenas as Escrituras (autoritarismo bíblico), por meio de experiências pessoais (misticismo) ou através de um combinação desses meios. O debate sobre esses diferentes métodos para descobrir a verdade sobre Deus depende de nossa crença acerca de:
• Deus - seria maior a ênfase em Sua transcendência (o fato de que Ele está além de nosso conhecimento) ou Sua imanência (o fato de que Ele se revelou a nós e pode ser conhecido)?
• Pecado - como o pecado afeta a habilidade dos humanos de apreender a verdade sobre Deus (os efeitos do pecado na mente são denominados efeitos noéticos do pecado).
Como discutimos, não é tarefa fácil, pois depende muito de como será aplicada. Em mente, o que precisamos é que o teísmo é a evidência correta do cristianismo, visto que não podemos demonstrar nenhum argumento histórico até que as pessoas realmente conheçam a cosmovisão teísta, dado que tendem a encarar a vida a partir de sua própria cosmovisão. Se quisermos utilizar as evidências reais dessa defesa da fé, teríamos que nos apoiar nos argumentos históricos e filosóficos. Seria mais útil também acumular argumentos lógicos formais, formando um cenário jurídico favorável ao Cristianismo, impedindo qualquer outra hipótese de competir com nossa posição. Está clara a ideia que permeia o uso adequado da noética do pecado, cuja fonte pressupõe que a verdade do Cristianismo seja o ponto de partida para a apologética.
Por fim, a epistemologia da defesa cristã passa pelo conhecimento, pois muitas pessoas acreditam em muitas coisas sem qualquer evidência. Portanto, não precisamos necessariamente de argumentos racionais; neste caso, necessitamos apenas da apologética negativa, defendendo a crença teísta contra os desafios.
DINÂMICA ENTRE PESSOAS NO MUNDO CRISTÃO
Na obra, Geisler relata personagens bíblicos que se destacaram em apoio à fé, o que não deixa de ser uma forma de apologética, embora distinta do que conhecemos como defesa moderna. Geisler cita os milagres de Moisés (Êxodo 4:1-9), o ambiente do profeta Elias (1 Reis 18) e as palavras finais de Jesus Cristo sobre o papel da Igreja (Atos 2:22), além do cenário do apóstolo Paulo, que debatê com as pessoas sobre a existência de Deus de forma racional, utilizando a filosofia (Atos 17:22-31).
O uso da apologética no mundo das pessoas é desafiador, especialmente ao nos depararmos com cristãos céticos quanto ao valor da apologética, que levantam diversas objeções, algumas baseadas em versículos das Escrituras Sagradas e outras nas limitações impostas pela lógica das questões espirituais. Essas objeções geralmente surgem de mal-entendidos sobre o texto bíblico ou sobre o propósito da apologética.
Há objeções como a de que a Bíblia não precisa ser defendida (Hebreus 4:12), sustentando a ideia de que as Escrituras são poderosas em si mesmas. Isso ignora que a Escritura resulta do uso sistemático de pessoas como instrumento de Deus para comunicar o que ela é. Outros podem contestar a ideia de que Deus não pode ser conhecido pela razão humana (1 Coríntios 1:21), o que seria uma precipitação em compreender que se refere à existência de Deus, e não à mensagem da cruz que é transmitida ou aceita. O que Paulo explica é que essa mensagem não pode ser recebida pela razão humana, mas apenas pela fé — pela revelação especial das Escrituras Sagradas.
O PROBLEMA DAS MUITAS VIDAS TEM REFUTAÇÃO
A seara apologética do Brasil tem uma missão de berço. Na sua origem, as religiões que não utilizam a Bíblia como única fonte de vida e fé, ou as consideram meramente um livro qualquer sem ensinamentos valiosos ou doutrinas sérias, nos permitem refutá-las com seus próprios argumentos, especialmente quando utilizam a própria Bíblia para explicar suas ideias doutrinárias. À luz das Escrituras Sagradas, essa mesma Bíblia que usam é problemática do início ao fim, pois a filosofia promovida por Allan Kardec não lhes favorece. Vejamos abaixo o núcleo da doutrina que não se apoia na Bíblia.
A DOUTRINA DA REENCARNAÇÃO
Em nosso contexto ministerial, a reencarnação é uma questão a ser refutada. O espiritismo, baseado nas doutrinas de Allan Kardec, a considera um dogma imutável. O prefixo “re” (repetir) e o verbo "encarnar" (tomar corpo) formam a palavra "reencarnação". Isso implica na ideia de que a alma toma um novo corpo repetidamente. Seja como for, isso implica que a alma retorna à vida em um corpo diferente, servindo como instrumento do processo evolutivo.
Nessa doutrina, estabelece-se que a alma volta a um novo corpo, o que é contraditório ao que a Bíblia ensina sobre a ressurreição, que significa o retorno da alma ao próprio corpo. Jesus Cristo é quem nos ensina a doutrina da ressurreição, e os evangelhos estão repletos de exemplos — como o filho da viúva de Naim, a filha de Jairo e Lázaro. Ressuscitar significa levantar novamente o que estava morto.
Portanto, a doutrina da reencarnação é antibíblica, assim como ensinada nas religiões do hinduísmo, que também aceitam a metempsicose, isto é, o retorno do espírito aos corpos dos irracionais. Na perspectiva espírita, a pluralidade das existências é distinta da metempsicose, que não admite a encarnação da alma humana nos corpos dos animais, mesmo como punição. Os espíritos alegam que a alma não retrocede, mas progride.
O QUE NÓS, APOLOGISTAS, DEVEMOS FAZER?
Refutar constantemente é um caminho, mesmo por meio de debates, para alcançar evangelisticamente os menos esclarecidos. Podemos utilizar a comparação entre João Batista e Elias, não como reencarnação, mas como um exemplo profético. Neste caso, a Bíblia nos ensina não uma reencarnação em corpos diferentes, como desejam os espíritas, mas sim uma missão profética com características semelhantes.
A retórica a ser utilizada no exemplo de João Batista e Elias é a seguinte: a) Se o profeta Elias passou pela reencarnação, como podemos explicar que ele nunca foi considerado desencarnado? Sabemos, pela narrativa bíblica, que o profeta Elias foi levado ao céu através de um redemoinho, sem que isso prove seu estado de morte (2 Reis 2:11); b) Se Elias tivesse reencarnado, na Transfiguração, descrita em Mateus 17:1-6, quem deveria ter aparecido seria João Batista. Este já havia sido morto por Herodes e, assim, deveria ter aparecido, e não Elias, pois segundo a doutrina da reencarnação, quando o espírito se encarna, toma sempre a forma da última existência; c) Podemos apresentar cinco traços de identidade entre o ministério profético de ambos, a saber: 1 - O aparecimento de Elias, descrito em 1 Reis 17:1, se assemelha ao aparecimento de João Batista, descrito em Mateus 3:1; 2 - Elias repreendeu o rei Acabe, casado com Jezabel, mulher idólatra e ímpia (1 Reis 18:17-18), enquanto João Batista repreendeu o rei Herodes, por viver com a mulher de seu irmão (Mateus 14:3-4); 3 - Elias foi perseguido por Jezabel (1 Reis 19:2-3), e João Batista foi perseguido por Herodias, mulher de Herodes (Mateus 14:6-8); 4 - João Batista, quando interrogado, respondeu claramente que não era Elias (João 1:21); 5 - Em Mateus 11:13, Jesus afirma que todos os profetas e acrescenta a João, logo Elias e João não estavam se referindo à mesma pessoa e à mesma vida (Mateus 17:10-13).
CONCLUSÃO
Portanto, podemos concluir que a dinâmica do instrumento da apologética deve passar pelo diálogo permanente em várias camadas de atuação cristã. Acreditamos que os níveis de formação intelectual que podem construir debates promissores estão presentes nas esferas do pensamento de homens que se dedicam ao estudo estratégico da defesa da fé.
O cenário apresentado, onde a refutação a religiões opostas ao Cristianismo verdadeiro é uma necessidade de reflexão sobre como interagir com descrentes. A experiência pessoal e o testemunho de cada crente podem melhorar o intercâmbio, permitindo uma explicação sobre a mensagem sob o ponto de vista cristão, sem que isso funcione como uma afronta, ataque ou tentativa de menosprezo.
A leitura que deve ser feita é uma tentativa profunda de relacionamento, sem permitir que o profano ateie fogo no sagrado. Tudo depende do ambiente em que tais discussões são permitidas e da sensibilidade dos intermediadores. Sabe-se que, no contexto social, prevalece a confiança no saber; daí a importância de preparar homens e mulheres nas escolas teológicas, para serem transmissores do instrumento apologético que visa anteceder o trabalho evangelístico em qualquer área transcultural e nacional.
Por fim, mostra-se imperativo a defesa da fé pelo bom comportamento de vida, além do saber intelectual. Isso porque a autoridade deve estar investida sobre aqueles que professam, com sinceridade, um relacionamento inquestionável com o controverso. A confiança destinada ao assunto precisa considerar a importância da figura do apologista como servo do Deus Altíssimo. Considerando com quem estamos conversando, sua origem cultural e possíveis experiências em relação ao que defende, podemos lidar melhor com os efeitos contrários à indiferença do que não compreendem. O desafio é manter o objetivo desse diálogo – convencer o oponente a viver o processo da dimensão da fé sobrenatural, que não pode ser provada, mas apenas experimentada.
FONTE:
Christian Apologetics, 2nd Ed - Norman L. Geisler, Baker Academic 2013