OS INTEGRANTES DA MISSÃO DE DEUS

INTRODUÇÃO

Christopher Wright é um escritor de magnífica ideia, de uma criatividade fora do comum, no que diz respeito a sua qualificação para ser um exegeta do Antigo Testamento sem precedentes. Sua obra literária em estudo leva o leitor a perceber como a tendência exibida no conteúdo é uma verdadeira jornada de Teologia Bíblica em cada capítulo. Sendo assim, há uma forte argumentação a partir de modelos e paradigmas veterotestamentários, muitas vezes em detrimento de modelos e paradigmas neotestamentários. A obra em questão chamada A Missão de Deus, salienta suas impressões sobre a Teologia da Missão a partir da Obra de Deus, suas intenções, suas motivações e o próprio Deus como agente desta missão, a Missio Dei. 

Encena nesse mesmo nível a visão de Wright, sobre as desafiantes dificuldades da igreja nos dias atuais, em um contexto missional, o que em certo sentido talvez alguns podem observar uma certa dificuldade em sua abordagem prática do tema. Para a igreja atual a falta de abordagem as questões práticas pode esbarrar no caráter mais universal do livro, tratando das questões de modo mais abrangente e na impossibilidade de abarcar as diferentes realidades para o qual o mesmo é escrito. 

ABORDAGEM DA CAUSA DO COMPROMISSO MISSIONAL

Ao ler o material de Wright é muito próximo do tamanho da influência que o pacto de Lausanne desempenhou nas reflexões do autor. Tudo indica pelo teor da mensagem, que Wright acompanhou de perto os movimentos em 1974. O mesmo pacto é citado como referência (p.318). Visto nisso o componente aberto trazido por ele ao relatar uma causa de compromisso holístico da mensagem ao leitor, ainda que ele aponte que ver o evangelismo como questão suprema sobre as questões sociais e não como questão primordial.

Fica sentenciado a obra a um ambiente de debate eclesiástico, com tendências e reflexão sobre a o papel desempenhado pela Teologia, considerado este último como para os mortos, segundo Wright, enquanto que missões é para os vivos. Seu livro parece querer provocar uma dinâmica no modelo cultural do evangelicalismo, como que esperasse de cada um de seus leitores uma reação proposital, onde demanda respostas e soluções que ainda não se apresentaram e a vida missional é desafiadora, dinâmica e exige respostas e adaptação da igreja e as pessoas. Embora em certo sentido parece que as vezes ele diga que a missão atrapalha ou bagunça a Teologia. Isto faz pensar muito sobre a construção do conceito que determina a prática e a teoria do assunto.

Ao levarmos em consideração que a igreja atual é a continuidade do povo do Antigo Testamento, o diálogo sempre está em aberto. Faz sentido se deixar entender a vida missional dentro de um concepção inteiramente bíblica, muito relacionada a sua narrativa dinâmica, que avança todos os campos de compreensão racional, pelo fato de que ao cuidar de tudo que existe na Terra está ao dispor, mas também é o mesmo que cuidar de nós mesmo. Então não é um puro sentimento ecológico envolvido, mas é um propósito estabelecido por Deus desde a eternidade. As relações humanas como igreja, é uma vida pública, isso é algo que esboça a literatura de Wright e com forte apelo para que a igreja compreenda de forma clara tanto ideias sociais e ecológicas em paralelo ao modo como Deus atua com seus agentes de abençoar a Terra, no exemplo de Abraão. Agora a igreja é parte dessa agência de propagação das bênção para a criação inteira. Abraão é o primeiro dentre vários homens a seguir, a receber o pacto de fidelidade de Deus, no entorno de fazer cumprir a ordem de ir, crer e obedecer. 

Ao verificar essas tendências, sabe-se que há muita ênfase em fazer discípulos, logo isso estabelece o sentido do ensinamento, aprendizagem e conhecimento. Enquanto que para alguns a ênfase vai recair em simplesmente em guardar o que foi ensinado, ou seja, está mais evidente a importância de obedecer. São pontos em discussão para uma igreja relevante e que desempenha o seu papel notório na sociedade e diante de uma orientação na Escrituras Sagradas já estabelecida. Há um paralelo com a Eleição, Ética e a Missão. Deste modo, Deus manda a igreja ir como um processo de eleição, como uma escolha anterior para enviar alguém que está qualificado para tal. Também para uma comunidade cristã que crê, necessariamente precisa agir de forma ética em todas as suas relações, seja mandatos e decisões. Nisso pode-se dizer que essa comunidade cristã tem pessoas que ao obedecer, estão dispostos a permanecer no foco da missão. Seja tanto no momento do resgate no Egito através do Êxodo ou na obra de Jesus Cristo na cruz do calvário, é uma perspectivas mais poderosa a respeito do que é o propósito de Deus para seu povo; alicerçar generosidade, compaixão, amor na vida das pessoas. O seu plano redentor é a essência vivificante do tamanho de sua entrega na Cruz pela humanidade. O Decálogo representaria para o povo que agora estavam livre - o alicerce para sua santidade prática, que instruía para uma vida diária exemplar para o resto das nações, ou seja um povo eleito para expandir, ético para decidir, obediente para cumprir, santo para serem diferentes. O caráter de Deus impresso na vida do povo era ação transformadora de Deus para ser visto pelas testemunha do seu poder em todo antigo Oriente Próximo.  Segundo Wright (2006, p. 159): "Em primeiro lugar, o paralelo entre o êxodo e a cruz, pelo menos na forma popular de expressá-lo, não é bastante adequado. Ser libertado da escravidão de nosso próprio pecado não é muito semelhante à libertação dos israelitas com experiência". Wright assume que a igreja tem sido um grande obstáculo para a sociedade conhecer a Deus. Empecilho que gera dificuldades muito simples, como de apresentar a Deus como o único Deus, característica fundamental, que o distingue das reivindicações de outras religiões e povos.  

As religiões mundiais existem em certo sentido por causa da insatisfação humana, quando é focado nos pretexto de sua criação. E sempre uma tentativa de melhorar o que já existe, é uma forma de mostrar particularidades de grupos objetivando exclusividade. Toda adaptação a novos contextos, ocorrem com uma visão muita das vezes legalistas elaboradas intelectualmente. Se todas as religiões no mundo é a tentativa de melhorar o que já existia, então há de convir que em algum momento da história, iniciou através do primeiro homem. 

A experiência humana com a primeira religião, desencadeou a reflexão a respeito de si mesmo, e daí cada um em seu habitat, conheceu a insatisfação pessoal. McGrath, 1996, p. 208 declara que “Devemos, portanto, suspeitar intensamente das ingênuas suposição, comum aos estudantes ocidentais de religião (e em última análise, refletindo sua perspectiva culturalmente condicionada), que religião é uma categoria bem definida, que pode ser bem definida e distinguido cirurgicamente da cultura como um todo”. Qual é a religião? McGrath acrescenta “Toda a questão do pluralismo religioso tem sido fatalmente falho por uma mentalidade que exige que tudo seja reduzido ao mesmo molde”. Na seara pública do debate religioso, é enfrentado uma super proteção ao envangelicalismo. Logo isso é positivo na história, mas por vez ultrapassa o que deveria representar desde o ministério de Jesus Cristo, quando estava presente em toda camada da sociedade e com todo tipo de pessoas. Seja como uma idéia muito ecumênica, mas também mostra uma fraqueza devota dos cristão, que quando não expõe em diálogo aberto, perde a oportunidade de falar de sua crença. 

Essa está sujeita nesse tempo a muita intolerância, tal como combate os mais fundamentalistas existentes em outras religiões. Declara McGrath, 1996, p. 213: “A supressão deliberada ou evasão de diferenças são academicamente inaceitáveis e não podem ser toleradas por qualquer pessoa preocupada em fazer justiça às religiões do mundo como elas são visto por seus próprios adeptos, ao invés de artificialmente versões reconstruídas dessas religiões que emergem da tendências homogeneizantes de estudiosos da religião”. O Cristianismo é de fato uma religião diferente. A única onde seu autor, é o seu Deus e o mesmo é o salvador, não delegando a terceiro e nem dividindo sua glória. Usa com exclusividade a cruz, contrariando todas as amostras vaidosas humana – aquilo que detestam é o que mais os identificam com o seu Senhor. Vejamos que McGrath, 1996, p. 216 diz: “...o significado da cruz como marca distintiva dos cristãos, já nesta conjuntura, torna-se bastante claro que o veredicto popular de que todas as religiões e seus 'fundadores' são iguais é um insustentável prejuízo”. São mundos diferentes, seja quando diante do Cristianismo, mas o diálogo visa convergir em unidade e nunca em fusão. Todo esforço para melhorar a compreensão mútua e o respeito em um ambiente altamente polarizado no mundo moderno, são substanciais, diz McGrath, (1996). 

Haja vista as dificuldade da harmonia, é normal que haja pontos intercomunicáveis e reconciliáveis, mas consideremos a possibilidade de superação das diferenças. Vejamos o que diz McGrath, 1996, p. 217: ”Os cristãos insistem que Jesus foi crucificado; Os muçulmanos insistem que ele não foi. Se o crente religioso realmente acredita em algo, então o desacordo é inevitável”. Um cenário muito interessante aproxima nosso entendimento dentro de um cenário onde a igreja não consegue atuar com autoridade, visto a imensa dificuldade em conciliar seus aspecto religioso e público, uma dicotomia perigosa. O destaque a ser dado, para sair um pouco do obvio, é o do sofrimento existente no aspecto público, onde confronta diretamente com a missão desemprenhada por homens e mulheres em países onde há intolerância religiosa. Onde há um povo missional, precisa necessariamente ter a real compreensão de que a adoração e a oração são instrumentos a favor das missões, para isto, vejamos os Salmos, e as orações de Jesus, clamando por conversão, mudanças e transformações no interior do homem ou por envio de obreiros, e por fortalecimento diante dos desafios cristãos. Haja vista que a oração, é um grande instrumento de subversão da idolatria no mundo, o que não deixa de ser um grande desafios do povo missional. 

A TAREFA DE ENSINAR A MISSÃO

E imprescindível deixar claro que a tarefa de fazer discípulos e viver missionalmente, é da igreja. Deus em sentido mais amplo, estabeleceu desde a eternidade o restabelecimento do Seu relacionamento com a humanidade. Deus trabalha desde a eternidade para alcançar as pessoas e, à Igreja, Ele dá o privilégio de ser o instrumento de comunicação do Evangelho para as pessoas que não é d’Ele conhecido. Assim como Israel tinha a missão de ser uma nação santa de sacerdotes, é a Igreja uma ferramenta instituída para ir a todos os lugares para expandir o Reino de Deus, seja para preparar, enviar, manter e cuidar de pessoas para fazer esse trabalho nas mais diversas culturas, povos e nações. No contexto enquanto parte da nação brasileira, há muitas tentativas de aplicar as verdades missionais à igreja. Desde enormes seminários, congressos, convenções e cultos especiais e trabalhos de liderança, apelam para preparar, enviar, manter e cuidar de pessoas para fazer esse trabalho nas mais diversas culturas, povos e nações. 

Wright, não trabalha muito nessa literatura, como as forças sociais e cosmovisões conflitantes afetam notoriamente a experiência cristã no campo aberto do trabalho de forma prática, no presente século. Ao falar do instrumento da propagação do evangelho, é preciso manter em plano primário, o fato que antes de mais nada, o trabalho deve ser ativamente de um departamento específico para esse fim, onde tem como finalidade saber pensar e agir, criando tarefas, criando eventos e lembrando incansavelmente a igreja de seu papel de sustentar o crescimento do Reino em diversas frentes, tais como consciência testemunho de vida, ir, orar interceder, promover e financiar. Não deve ser o alvo da igreja permitir que essa tarefa passe a ser secundária ou um trabalho terceirizado efetuado pelos missionários nos campos distantes, dalém mar, porque assim ainda compreende o trabalho missionário. Um grande exemplo disso é que ainda precisa criar eventos específicos para trazer informes sobre o que estar acontecendo nos campos distantes e não é dado importância e o enfoque ao falar todos os dias do que estar acontecendo no campo missionário local, seja com os vizinhos ou parentes, e disso não precisa de eventos especiais. A tarefa é tão complexa que exige uma ação rápida para reformular todo o jeito de ser da igreja atual.

Ser missional é entender-se como tendo uma vida com propósitos e uma missão nobre, mas a igreja já é secularizada demais para dar um passo tão atrás ou tão à frente. A solução parece mais viável do ponto de vista do discipulado, no qual cada crente deve primeiro aprender de fato que toda a sua vida é para a Glória de Deus e que nada do que se faz deve escapar ao propósito de adorá-lo e servi-lo. Não parece que o discipulado abranja o constante estudo, sem a prática, daquilo que tomamos como diretriz na Palavra de Deus, pelo contrário, mas em ações correntes e frequentes através das quais o aprendizado acontece. O modelo de Cristo é um paradigma perfeito, ou seja, por meio de sua convivência e ações refletidas com seus discípulos ensinava-os a vida missional.

As ações missionais da igreja devem compreender, sobretudo, atividades que possam trazer um envolvimento cada vez mais aproximado de cada membro da comunidade nas ações, e cada vez menos devem se relacionar o trabalho missional com algo além mar, e muito mais como ações concretas no aqui e agora. A comunidade deve ser convidada ao debate e reflexão das necessidades do contexto que vive e dentro de suas possibilidades empreender ações positivas para solucionar ou atenuar os problemas detectados. Observado assim que é notória uma grande crise de voluntariado. As pessoas não querem mais ir, querem terceirizar, querem pagar, e isto deve ser denunciado e confrontado. Neste sentido, pastores e demais líderes, tem um papel fundamental.

Apesar de todos os desafios e limitadores intelectuais que podem se apresentar, cada cristão deve ser levado a conhecer e refletir sobre todas as forças concorrentes no tempo e saber, ainda que minimamente, detectar as tendências dos pensamentos e ordens modernas, devendo conhecer outras religiões e aprender a lidar com as mesmas, tanto apologeticamente quanto evangelicamente.

A obra missionária é na verdade realizada dentro de um grande processo iniciado e gerenciado por Deus através da chamada Missio Dei. Dentro de seu papel na grande comissão, a Igreja identifica, prepara, envia e cuida de seus missionários, procurando proporcionar-lhes as melhores condições possíveis para que não aconteçam os chamados retornos prematuros que colocam em risco todo o projeto missionário.

Nas Escrituras Sagradas é o próprio Deus quem se revela missionário, sem conotação ideológica ou pragmaticamente proselitista. Já, no Antigo Testamento, percebemos a iniciativa de Deus ao escolher um povo para ser testemunha de Seu propósito reconciliador para resgatar a dignidade humana e recompor a “sua imagem e semelhança”, manchadas pelo pecado. Jesus Cristo veio ao mundo como missionário de Deus, isto é, enviado especialmente por Deus para dar maior expressão à Missio Dei e estabelecer Seu Reino neste mundo.

A missão como Missio Dei, numa visão ampla da história, significa que Deus assume diretamente no mundo a tarefa de preservar e redimir a Criação, reconciliar pessoas consigo mesmas e criar comunidades fraternas e solidárias em torno da memória de seu Filho Jesus Cristo. Isto significa que o próprio Deus faz missão a partir de sua misericórdia. Esta ideia de missão nem sempre foi historicamente assim concebida na própria teologia; ou melhor, ainda hoje há quem veja diferentemente o conceito de Missio Dei. Entendia-se a missão a partir de alguns equívocos: como algo restrito à eclesiologia e tarefa da Igreja para garantir a sua expansão; como algo visto sob a perspectiva da soteriologia (doutrina da salvação), voltada para a ideia de salvar pessoas da condenação eterna; ou ainda em termos culturais, no sentido de oferecer privilégios e bênçãos do Ocidente cristão aos não cristãos espalhados pelo mundo.

As origens missionais, a natureza e a vocação da Igreja

Pegar o evangelho é a vocação da Igreja. Uma missão tão importante que está nas mãos de uma comunidade, uma grande responsabilidade, que é tornar o mundo conhecedor de Cristo. Também enquanto isso está nas mãos da liderança da igreja conscientizar e preparar esse povo para fazer a missão é uma tarefa urgente e urgentíssima. Este fator se explica por algumas características de sua vocação e passa pela necessidade que cada integrante desse corpo conhecer sua parte no caminho que cruza sua própria história e passagem peregrina na terra. E refletir sobre esses pontos relevantes dessa vocação, com vistas a repensar, direcionar e adequar os programas que cada comunidade cristã faz, ou como igreja local a este trabalho (missões) parece ser uns dos maiores desafio do momento.

  Vocação divina

A natureza da Igreja é divina e missionária sem precedente. Deus a elegeu para que os perdidos conheçam a Jesus e sejam salvos. Sua vocação está demarcada pelos princípios da Palavra de Deus. Quer dizer: Sua missão neste mundo é a realidade essencial de sua existência na terra, pois ela existe, exclusivamente, para adorar e servir a Deus, Mateus 4:11.

À igreja compete levar a preciosa semente a todas as nações ou etnias, Mateus 28: 18-20, Marcos 16: 15 e Atos 1: 8. Portanto, é preciso considerar que a evangelização local e mundial ainda é o âmago da vocação / missão da igreja. Ela é a própria razão de ser da igreja. Sua missão é compensadora, pois o próprio Deus está no comando. Não se trata de uma incumbência eclesiástica e institucional, mas uma realidade fundamental da vida.

Fazer missões não é tarefa imposta às agências missionárias, pelo contrário, é uma vocação / missão dada primeiramente à igreja local, Atos 8:4. A Igreja de Antioquia reconheceu esta verdade, ao enviar os primeiros missionários, Atos 13:1-3. As agências de missões são parceiras das igrejas. Por isso, a igreja deve caminhar por este mundo, cumprindo seu papel de ser sal da terra e luz para todos os povos. 

  Vocação atemporal

A vocação da igreja, no sentido de fazer missões ou transpor as barreiras geográficas, sociais e culturais perpassa o tempo de sua existência, ou seja, começa com a promessa implícita no plano de Deus para a redenção da humanidade, registrada em Gênesis 3:15: “Porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a sua descendência e o seu descendente; este te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar”. Este texto é uma profecia do conflito espiritual entre Jesus (semente da mulher) e Satanás e seus demônios (semente da serpente). Os estudiosos chamam esta passagem de protoevangelho, porque é a primeira referência bíblica alusiva ao nascimento, morte, crucificação e vitória de Jesus sobre Satanás, sobre o pecado e sobre a morte para salvar o perdido. É o prenúncio do evangelho a ser pregado aos povos. É o discurso de Deus sobre missões. 

Em Gênesis 12, temos um novo capítulo na revelação do AT sobre o propósito divino de redimir e salvar humanidade, por meio da chamada de Abraão. Da família de Abraão surgiria uma nação escolhida - Israel, para que os outros povos conhecessem a Deus. Dessa grande nação viria Jesus, da descendência de Davi, o Salvador do mundo. Dessa forma, Abraão cumpriu cabalmente a sua missão; Israel, por sua vez, foi instrumento de Deus no palco da vinda de Jesus a este mundo, e os profetas tiveram participação especial nesse grande empreendimento.

O tempo passou e as profecias se cumpriram. A missão continuou com a Igreja Primitiva, que legou à igreja da atualidade a continuidade da vocação/missão - de pregar as boas-novas a todos os povos da terra.

 Vocação holística

Por fim, parece soar estranho dizer que a vocação/missão da igreja é holística. Isto quer dizer que ela tem necessidade, dentro de suas pretensões como agência do Reino de Deus, de buscar um entendimento integral do ser humano. Precisa ver o homem no seu todo. Este é um fator preponderante em missões. Todavia, a igreja, ainda, não assimilou a necessidade de um envolvimento total no que diz respeito à evangelização do mundo.

O seu chamado não pode ser dicotômico, ou estar voltado apenas para a alma do ser humano, mas sua missão tem de estar voltada para o homem total (corpo e alma), isto é, um trabalho capaz de atingir as emoções (coração), o espírito (alma), a razão (entendimento) e força (vontade).  Somente assim o pecador arrependido e salvo poderá amar a Deus.

O papel da igreja não se resume apenas ao aspecto religioso/espiritual, mas precisa ser sociopolítico. Como sal da terra e luz do mundo, ela existe para fazer a diferença nos diversos setores da sociedade em que está inserida, principalmente no socorro aos menos favorecidos. Esse é o grande desafio da igreja.

É sabido de todos que a injustiça social, que está patente aos nossos olhos e que a igreja tem se afastado ou passado de largo, como fizeram o sacerdote e o levita, na parábola do Bom Samaritano contada por Jesus, (Lucas 10:25-37), é uma afronta à imagem e semelhança de Deus. Neste aspecto, devemos reconhecer nossa omissão diante de Deus e repensar nossas metodologias, projetos e alvos preestabelecidos. De modo enfático, queremos salientar que missões se fazem a partir das igrejas locais. É tarefa de sua inteira responsabilidade. Que nenhuma delas se esquive de sua vocação/missão. Dessa forma, a igreja estará pronta para pedir as nações (os povos) por herança e os fins da terra por possessão.

A origem da missão se encontra em Deus, que confia seu Plano de Salvação Universal a Jesus, no Espírito Santo. É Deus próprio que decide sair de si mesmo e vir ao nosso encontro com seu amor sem limites. Portanto, ao falar de missão, não falamos de uma atividade, mas da essência divina de Deus que não se contém, mas transborda, se comunica com a humanidade. A revelação de Deus amor se dá em Jesus Cristo. Ele escolhe e chama discípulos para estar com Ele, formar comunidade na unidade com o Pai e o Espírito e viver a missão de Deus até os confins da terra. Todos os que seguem Jesus, pelo batismo, em qualquer estado de vida, laical, consagrada ou ordenada, recebem do Mestre a ordem de continuar a mesma missão como Igreja. Dessa forma, não é a Igreja que tem a missão, mas a missão que tem a Igreja e a envia. Não é o missionário que leva o Evangelho, mas é o Evangelho que leva o missionário até os confins do mundo para fazer discípulos.

Conforme vemos, a missão não é algo secundário na vida do discípulo de Jesus, seja ele ordenado ou leigo, mas é essencial, ou seja, sem ela, não há razão de existir. A Igreja existe de verdade quando assume a missão, vocação que se realiza mais no âmbito do "ser" do que do "fazer". A missão aos povos sempre foi, e sempre será a grande vocação da Igreja. Não é exagero afirmar que, se a Igreja não for missionária por natureza, por essência, ela simplesmente não existe como tal ou então não é a Igreja de Jesus Cristo.

ORIGENS DA MISSÃO DA IGREJA

A origem da igreja é projetado no texto de 1Pedro 2.9-10, onde ele coloca a igreja como a única comunidade com uma corporação de identidade própria na anunciação do evangelho. Um corpo capaz de ser identificado com os mesmos relatos de Israel em Êxodo 19.5-6. Obviamente uma comunidade que não ficou restrita ou limitada aos descendentes físicos de Abraão. Judeus e gentios compartilham, por igual, da mesma família da fé, quando creem em Jesus Cristo como Senhor e Salvador. Por esse lado da janela podemos entender, que a igreja é o fruto de uma missão que alarga suas fronteiras como único destino a ser seguido em sua existência, compreendido do seguinte modo:

I. O que é a igreja? 

São todos aqueles que obedecem à Palavra de Deus em contrastes com aqueles que não obedecem a ela; entre os que aceitam e os que rejeitam a Jesus Cristo com Senhor e salvador. Explicita que a natureza dessa comunidade é projetada como sendo uma Raça eleita, do grego, é genos eklekton – “Povo escolhido”. Contudo sabemos que na história da humanidade, há uma diversidade de raças, e muitas sentem orgulho pelos seus ancestrais e os feitos no presente. A igreja deve sua existência ao fato de Deus a ter escolhido. Todos os méritos da existência da igreja devem ser dados ao Senhor que a elegeu.

2. Por que sacerdócio real 

O sacerdote era para alguém que ocupava uma posição honrosa e de responsabilidade, e que estava revestido de autoridade sobre outros. O sacerdote era representante do homem perante Deus. Tinha o especial privilégio e responsabilidade de aproximar-se de Deus, e de falar e agir em favor do povo. Em relação ao ofício da igreja está o fato que acrescentado algo novo a este sacerdócio: é um sacerdócio real. É real porque serve ao Rei, e assim participa da Sua natureza real. É real porque é serviço para o Reino de Deus. Como representado em Apocalipse, os cristãos como participantes da realeza de Cristo (1.6; 5.10; 20.4,6; 22.5).

A missão sacerdotal de Israel na velha aliança que Deus constituiu como nação foi a de servir de ponte entre o Todo-Poderoso e as nações do mundo (Êxodo 19.6). Hoje, todos os que participam do sacerdócio em virtude de sua adoção na família real de Deus devem servir mediante a intercessão (a ponte da oração), mediante a evangelização (a ponte da comunicação), mediante o serviço (a ponte da realização) e mediante a demonstração do amor de Deus na prática (Shedd, 1954, p.45-46).

3. Nação santa

O conjunto de pessoas constituída e identificada como povo é uma nação. Esse grupo de pessoas pertencem a uma comunidade com mesmo estilo, língua e compartilha de um mesmo objetivo cultural e história, logo é certo que falamos de algo que vai nos remeter a Nação santa que Deus sempre quis ter em destaque na terra. O apóstolo Paulo já havia declarado que temos um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos (Efésios 4.5-6). Nesse mesmo princípio está uma igreja que unida por essas raízes, compartilha de muitas coisas em comum, o que faz ser chamada de nação.

4. Povo de propriedade exclusiva de Deus

Só pode considerar que algo pertence a alguém, quando adquiridos por meios próprios ou porque alguém lhe deu, ou herdado de alguém. Pensando nisso que vem a mais simples ideia que a igreja é propriedade exclusiva de Cristo, porque Ele a comprou; não com ouro ou prata, mas com Seu precioso sangue que desceu da cruz.

Significado missional da visão bíblico-teológica no Brasil

A vocação e a tradição na Igreja no Brasil é sempre voltada a dimensão estruturante na missão evangelizadora das pessoas necessitadas dentro e fora do país. A palavra vocação se origina do termo latino vocare que significa chamado. A partir da referência cristã, compreende-se vocação como um chamado de Deus. Comumente se dá a aproximação de vocação com profissão, do latim professio, que diz respeito ao exercício de um ofício.

A profissão tem uma finalidade mais diretamente ligada à sobrevivência, exercendo um ofício realizado em benefício da sociedade, que por sua vez dá à pessoa as condições de sobreviver. Este exercício, quando não é feito voluntariamente, exige remuneração compatível com as necessidades básicas de sobrevivência da pessoa. No exercício profissional a pessoa contribui com a sociedade através da sua especialidade e consegue, a partir desse exercício, condições de sobreviver. Certamente, enquanto profissional, a pessoa precisa se realizar no que faz. Isto contribui com a sua realização humana.  Neste sentido é salutar a compreensão da Doutrina Social da Igreja que liga o trabalho ao exercício da criatividade humana, transformação da natureza e realização pessoal segundo o seu dinamismo próprio. Cada trabalhador é um irmão em Cristo que continua a criar e fazer o bem.

A vocação se reveste da dimensão de serviço, da missão em nome de alguém. Para os cristãos, Deus chama a pessoa para uma tarefa especial em seu nome, é Ele que toma a iniciativa de convidar, pedindo que a pessoa chamada colabore na sua obra. Assim foi com Moisés (Êxodo 3.10), com Samuel (1Samuel 3, 1-19), com o profeta Amós (Amós 14-15) e com tantos outros que ouviram o chamado do Senhor e se colocaram em missão, obediência e gratuidade. É uma tarefa marcada antes pela dimensão serviçal e gratuita do que pela busca da sobrevivência, pois nenhuma vocação é assumida na busca de arrecadação material ou financeira. Se isso acontece é porque algo não foi assimilado. Vejamos o chamado de Moisés, que deixou uma vida segura junto ao sogro para uma caminhada errante e nem chegou à terra prometida. Amós, por sua vez, deixou o trabalho de cultivador de sicômoros e criador de gado para assumir os riscos de profetizar em nome de Deus. Ambos foram provocados a deixar uma certa segurança material e existencial para uma missão não tão segura, não hesitando em responder ao chamado do Senhor Deus.

A provocação quanto à vocação é proposição divina. Deus toma a iniciativa, todavia a resposta é responsabilidade de cada pessoa humana, que se fundamenta em alguns pilares. A resposta ao chamado divino é dada na fé, pois somente a fé em Deus, que é amor e bondade, permite um sim, às vezes inseguro, temeroso, contudo um sim.  A pessoa, ao responder o chamado de Deus mergulha confiantemente nos seus desígnios e se dispõe a trilhar o caminho proposto pelo Pai. A resposta dada na fé não permite tantas certezas como a pessoa é tentada a buscar. A única certeza é o ponto de partida, a fé em Deus que convida o ser humano a colaborar na sua obra.

A resposta ao chamado vocacional também implicará em um longo processo de saída, para o qual se faz necessário rever muitos projetos, reinterpretar convicções e traçar outros caminhos em nome da fidelidade ao chamado de Deus. Esta saída pode ser geográfica, mas sobretudo existencial. E, na saída corajosa dos cercados existenciais, a pessoa encontrar-se-á com outros, num profundo processo de enriquecimento pessoal e de fé. A resposta ao chamado divino desinstala, desacomoda e faz sair.

Ao responder ao chamado divino a pessoa vai se compreendendo como servidora da causa do Reino. Jesus, como outrora chamou os discípulos, também o convida a ser servidor. O sim dado a Deus é o sim dado a dimensão servidora da vocação, seja na condição de ministro ordenado, leigo engajado na missão evangelizadora, vida familiar ou vida religiosa.

Cada vocacionado, cuja vida recebeu de presente do próprio Deus, é convidado a entregar-se inteiramente a este Deus que o chama, gastando a vida em uma causa que valha a pena. Jesus Cristo não tira nada, Ele dá tudo. Quem se doa por Ele, recebe o cêntuplo. Concordamos de forma bíblico-teológica que toda a igreja está inserida dentro do propósito maior da Missão de Deus, que não há como separarmos a mensagem da cruz de salvação das raízes que levaram ao ponto culminante de sua existência final no papel redentor de Cristo para a humanidade. E um contexto muito singular, a existência da igreja como parte dessa missão, e a missão como parte dessa igreja, sendo tal missão não apenas o pano de fundo, mas a narrativa maior por trás da narrativa que volumosamente domina as Escrituras: o plano de salvação para abençoar todas as famílias da terra e fazer discípulos de todas as nações.

CONCLUSÃO

Chegamos a conclusão que a missão com Deus, não precisa de especialistas, mas de pessoas comprometidas além do envolvimento para exercer mistérios plenamente identificados com a Pessoa e a Missão de Jesus Cristo. São pessoas que não estarão pressas à lugares e estruturas tradicionais que dificultam a transmissão da fé. Pessoas de fé que vivem. Além do que podem fazer, estarão sempre na vanguarda profética, porque se identificam com a profecia de Jesus; apostólica porque alicerçada na experiência e tradição dos apóstolos e das primeiras comunidades; evangélica porque tem o Evangelho de Jesus como ponto central que ilumina e torna autêntica a Missão; e universal porque em plena unidade com Deus, que ama sem fronteiras, está preocupada com toda a humanidade.

A mensagem da cruz, será depositada nos corações através de pessoas apaixonadas por esse ministério profundo da graça de Deus, que anuncia a mensagem sobre o Reino que não terá fim. A missão de uma Igreja movida pelo Espírito Santo, que na solidez da grande comissão de Jesus, é itinerante, encarnada e missionária. Uma Igreja sólida, organizada e em movimento, contagiante, dinâmica e aberta aos anseios do mundo, fará um bom trabalho de campo na sua comunidade, voltada preferencialmente para os excluídos com características de família (hospitaleira), samaritana (servidora), celebrativa (na ação litúrgica da fé), profética (transformadora) e missionária (aberta ao mundo). Uma Igreja que viva a sua verdadeira vocação como sacramento (sinal) visível da presença do amor misericordioso de Deus, revelado em Jesus Cristo, pela humanidade inteira.

Portanto fazer Missões acontece quando uma pessoa ou um grupo realiza uma ação transmissora da mensagem da cruz, seja no Brasil ou no Oriente Médio ou África, por exemplo. Cada Cristão possui ou deve possuir em si o entendimento do plano de salvação através da vinda de Jesus ao mundo, tem a responsabilidade, ordem do próprio Jesus Cristo (Marcos 16.15). Mas não deve ser um fardo fazê-lo. Temos o privilégio de falar do amor de Deus! Temos o privilégio de fazer Missões!

Para cumprir com a missão e ser missional não é percorrer grandes distâncias, ir para outros continentes, mas é a difícil viagem de sair de si, ir ao encontro do outro, ir ao encontro do que é ser diferente, ir ao encontro do marginalizado. 

REFERENCIA

Alister McGrath: "Evangelicalsim and religious pluralism," in Passion for Truth: The intellectual coherence of evangelicalsim (IVP, 1996), pp. 201 - 240.

Russell P. Shedd – Editor | 1954 p 45.46 - NOS PASSOS DE JESUS

The Mission of God: Unlocking the Bible's Grand Narrative, Christopher J.H. Wright, IVP Academic 2006.


Minha foto
Rondineli SS
Sou casado com Shirlene e pai de um casal de filhos; Marianna e Phillipi. Amante do ensino bíblico, apaixonado pela bíblia, desde a conversão em 1997. Pastor certificado pela Igreja do Nazareno - Professor credenciado do STNB (Seminário Teológico Nazareno do Brasil) - Doutorando em Teologia - GCBC Great Commission Bible Colege - Mestre em Teologia e Estudos Bíblicos: WWES WorldWide Evangelical Seminary - Superior em Teologia Cristã - BTS - Birmingham Theological Seminary - Formação Ministerial e Teologia - STNB (Estratégicas) - Pós Graduado: Teologia, Sociologia e Filosofia - IPEMIG – Instituto de Pedagogia de Minas Gerais / Faculdade IBRA "Aqui estou eu! Envie-me." (Isaías 6: 8)


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