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O objetivo da formação espiritual com as práticas adotadas por John Wesley nas Sociedades que ele fundou


INTRODUÇÃO:

Começamos de algum lugar, que é o marco zero de nossa vida, podemos chegar a algum lugar se é o fim da jornada pretendida. Mas porque devemos empreender tal jornada em busca da formação espiritual consistente, madura e próspera, como alcançou grandes homens de Deus, onde o Apóstolo Paulo é um exemplo de maturidade, quando diz: (Filipenses 4:12-13) - Sei o que é passar necessidade e sei o que é ter fartura. Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação, seja bem alimentado, seja com fome, tendo muito, ou passando necessidade. Tudo posso naquele que me fortalece”.

Tal declaração nos faz refletir sobre o que não é formação espiritual, antes de falarmos o objetivo da formação espiritual. Importante sabermos que ícones do nosso tempo, formador de homens e mulheres metodistas por excelência como John Wesley, não queria pessoas chamadas a correr uma carreira onde a fala do púlpito viesse carregada de discursos motivacionais, como uma autoajuda, mas que nesse momento tão solene da ministração da Palavra de Deus, estivesse o servo cheio do Espírito Santo, fundamentado na Palavra, ainda que as necessidades viessem à porta de sua casa ou a fartura visitasse a sua despensa ou ainda com fome, açoitado pelas enfermidades físicas, sem amparo da sociedade civil – esse homem e mulher de Deus estivessem fundamentados na dependência exclusiva de Deus, que se manifesta pelo nome do Senhor Jesus Cristo.

A FORMAÇÃO ESPIRITUAL:

É a formação espiritual um processo de adoção prática que aprofunda a recepção da presença de Deus no tabernáculo, para a manifestação de sua Glória conforme lhe apraz.

A nossa definição não é o fim em si mesmo, sem antes, contudo dizer que vem acompanhada de uma vida de oração, de Jejum e da leitura sistemática da Palavra de Deus, para um viver com ideais mais elevados da fé que vence o mundo e que vence o pecado pelo próprio estilo de vida que assemelha ao de Jesus Cristo, ao ponto que basta cada dia o seu mal, para naturalmente amar mais o próximo, dá perdão sem limites (70 x 7) e ou mesmo ajudar o seu inimigo a beber agua de sua própria cisterna.

Segundo Richard J. Foster a formação espiritual é "uma jornada pela qual abrimos nossos corações para uma conexão mais profunda com Deus". Então se considerarmos todos os dias um avanço na intimidade com Deus podemos fazer a jornada da formação espiritual, tal ponto de nos sentir constrangido com aquilo que somos perto daquilo que só Deus é através do seu filho Jesus Cristo, que me leva mais e mais profundamente ao novo caráter como diz Dallas Willard a formação espiritual é “a formação de caráter”.

Para Wesley, todo homem devia possuir a experiência mais íntima com Deus, e isso se traduzia em viver com os seus pares, onde as lutas e os enfrentamentos iriam madurecer o servo fiel, que se sujeitasse, ou subjugasse a vontade do Pai, para não tropeçar em suas próprias vontades, onde está um coração que não habita nada de bom, mas que deve ansiar por Deus, por experimentar a inteira santificação. O apóstolo Paulo diz (Romanos 7:18-20), “Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; e com efeito o querer está em mim, mas não consigo realizar o bem. Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero esse faço. Ora, se eu faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim”.


VIDA EM SOCIEDADE COMO MÉTODO DE CRESCIMENTO:

A formação espiritual cunhada no metodismo Wesleyano precipitou todo seu esforço em oferecer ao homem e a mulher de Deus, oportunidades de crescimento na fé com o objetivo maior da perfeição cristã. O empenho metódico de uma conduta de vida comunitária levava cada servo aos meios da graça, que imprimia neles as regras de crenças, que discipulava e comprometia com os cuidados necessários as coisas que era de Deus, como diz em Lucas 2:49 “(...) Como não sabíeis que era meu dever tratar de assuntos concernentes ao meu Pai?”

A vida em comunidade favorecia ao contato, com o que havia de mais difícil no homem, e permitia a cada servo praticar sua formação espiritual, cristalizando seu coração, deixando Jesus tabernacular em si. Está na casa do Pai, cuidando do que é dele, é o zelo pelas coisas que há de herdar no céu, engajado nos pensamentos bons, em abraçar o ferido, comprometido com a hospitalidade, centrado na adoração e na generosidade, como um “bom samaritano” [¹].

O servo que objetivar uma formação espiritual de excelência precisa deixar o Espírito Santo trabalhar sua natureza interior, precisa sair do discurso e longo percurso do legalismo, que mecaniza a relação humana, para uma jornada de cura, uma jornada de transformação de imagem, que possibilite uma renovação real dentro do “eu” e que melhora todos os dias, quando pelos meios da graça emergimos na necessidade do irmão ou do não irmão, conduzido pelas práticas que levam até a mais alta possibilidade de vê Deus agir, como um reflexo do reino eterno, que começa dentro de cada um, como as citações de Mt 12.28-29; Lc 17.20-21; Mc 10.14-15; Lc 16.16; Mt 6.33; Mt 8.11. Mc 9.47; Mt 25.34. Mc 4.26-29; Mt 13.31-32; Mc 4.11.

As obras de misericórdia era para a comunidade Wesleyana, uma forma de abençoar os mais necessitados e como era também o benefício do exercício da compaixão dos servos, através de um amor genuíno, sem interesse e focado na missão de Cristo na expansão do seu reino.


NO MEIO DA JORNADA:

 

Nada mais importante na jornada da formação espiritual, como a disciplina. João Wesley, dizia que “Os meios de graça são instituídos ou ditados pela prudência”. Tal era a disciplina necessária para conseguir caminhar com a oração particular, em família e em público, consistindo de deprecação, intercessão e ações de graça.

Somente homens e mulheres comprometidos com essa formação espiritual de excelência, serão os gigantes espirituais que passarão de uma vida simples e natural, a uma profunda ”Shakhan [²][i], com abundância. No exercício da formação no alto da caminhada, cada um vai ser erguer ou descer, enfadar ou gozar, aprisionar-se ou liberar-se, quando cada situação fim dessa disciplina pesar seu coração, então somente ele e Deus verão o ponto ou qual parte da jornada o mesmo se encontra, até que o convívio com meditação, oração, jejum e estudo – entregue o servo ao raiar do sol, e posto a caminhada das milhas exigidas, ele também vai necessitar de mais simplicidade, solidão, submissão e serviço, e ainda assim, quando estiver com os seus pares, deverá saber esperar até que todos vejam sua confissão, adoração, orientação e celebração. 

Será no relacionamento com os outros que a formação espiritual será provada, como nas atitudes, no abrir da boca, nos pequenos e grandes gestos, será onde Cristo vai ser visto no homem transformado, e somente nessa manifestação, é que Cristo será visto. Nessas ações será perceptível quanto há de Deus em mim, ou o quanto ainda falta. Mateus (25:40) diz; “E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes”.

CONCLUSÃO:
O objetivo da formação espiritual é particular, é pessoal. Só Deus poderá vê no mais íntimo a intenção do coração, até mesmo quando oramos, com as liberdades que se propõe a conversa com a mais alta patente celestial, que mesmo assim nos chama a sua confiança, nos encoraja a devota humildade e ordenada comunicação.

Valorizar esse objetivo, é continuar respirando na vida, como diz Wesley, a oração é “o fôlego da nossa vida espiritual”, pois devemos seguir o exemplo máximo que foi Jesus Cristo, que ensinava fazendo, e o Apóstolo Paulo alertava; “Orai sem cessar” 1Ts 5:17. Nossa intimidade com o Pai vai nos levar sempre a conversa da “viração do dia” [³] e então vamos chegar ao fim, ao objetivo da formação espiritual, sermos a imagem e semelhança Dele.

Podemos reconhecer Deus em nossas vidas, quando alistamos ao seu exército e sob o seu comando, somos habilitados às primeiras guerras de nós mesmo. Vencer nosso velho homem e as nossas próprias vontades vai exigir a disciplina da longa jornada que nos conduzirá a maturidade cristã.

Não duvidamos disso!


Referências:


COLLINS, K.J. Teologia de John Wesley: O amor santo e a forma da Graça. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p. 347.






[¹]“Um homem descia de Jerusalém para Jericó, quando caiu nas mãos de assaltantes. Estes lhe tiraram as roupas, espancaram-no e se foram, deixando-o quase morto. 31 Aconteceu estar descendo pela mesma estrada um sacerdote. Quando viu o homem, passou pelo outro lado. 32 E assim também um levita; quando chegou ao lugar e o viu, passou pelo outro lado. 33 Mas um samaritano, estando de viagem, chegou onde se encontrava o homem e, quando o viu, teve piedade dele. 34 Aproximou-se, enfaixou lhe as feridas, derramando nelas vinho e óleo. Depois colocou-o sobre o seu próprio animal, levou-o para uma hospedaria e cuidou dele. 35 No dia seguinte, deu dois denários ao hospedeiro e lhe disse: ‘Cuide dele. Quando eu voltar lhe pagarei todas as despesas que você tiver’.36 “Qual destes três você acha que foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?” 37 “Aquele que teve misericórdia dele”, respondeu o perito na lei. Jesus lhe disse: “Vá e faça o mesmo”. Lucas 10:30-37


[²] No hebraico bíblico, esta palavra nunca foi usada, apenas a sua raiz, na forma verbal. O verbo Shakhan é usado na Bíblia hebraica (ver Êxodo 40:35: " Moisés não podia entrar na tenda da congregação, porquanto a nuvem permanecia [Shakhan] sobre ela, e a glória do SENHOR enchia o tabernáculo")

[³]E ouviram a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim pela viração do dia; e esconderam-se Adão e sua mulher da presença do Senhor Deus, entre as árvores do jardim. Gênesis 3:8





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