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Uma reflexão a partir da leitura do capítulo ‘XVI A Justificação, a Regeneração e a Adoção’ do livro ‘Introdução a Teologia Cristã’ de Orton Wiley e Paul Culbertson


E inegável que a bíblia trata o plano redentor tanto no antigo testamento, bem como no novo testamento com muita propriedade e em especial o processo da justificação, regeneração e adoção possui interdependência uma relação à outra, de maneira que na aplicação do conjunto não podemos dá margem para que o inimigo de nossas almas nos veja defendo a salvação pelas obras (extremo do antigo testamento) e muito menos defendendo a salvação pela graça sem obediência (extremo do novo testamento), gerando libertinagem no seio da igreja.



1 – A JUSTIFICAÇÃO

Lutero qualificou a justificação como sendo o artigo da firmeza ou da decadência de uma igreja. Na seara do homem justificado encontramos primeiro um sacrifício perfeito, tão perfeito que não permite a nenhum acusador sustentar uma acusação contra o homem, que diante do pecado foi achado culpado e condenado pelos atos. A justificação é anulação da sentença, o ato judicial que legisla de forma pessoal, individual e dá novo sentido ao homem, um novo relacionamento que firma ele diante da imagem de Deus ou o envergonha.
Deus risca a promissória que era contra nós, a sentença de morte foi revogada pelo poder divino em um ato divino, e tem como resultado a permissão para que de fato o homem se achegue a Ele. Essa aproximação é inicial, piedosa e relativa no sentido de que é o primeiro passo dado no sentido da reconciliação.
Importante citar João Wesley sobre este assunto, que diz... “que a justificação não consiste em tomar o indivíduo realmente justo ou reto”. Se apontarmos para m processo então relativo, é ao mesmo tempo uma porta aberta com o Deus todo poderoso que conforme diz Is 59: 2 “Mas os vossos pecados fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que não vos ouça”, deixou de existir uma barreira, porque nossos pecados foram perdoados em Cristo no seu sacrifício, que alterou uma questão externa entre nós e Deus.
Cabe ressaltar aqui que a justificação não é a santificação que é uma transformação na natureza moral do homem, diferente da justificação que é aceitação da sentença de morte revogada pelo ato salvífico de Jesus Cristo.
Flutua no campo da justificação dois atos eminentes que funcionam tão somente pela inciativa de Deus. Uma é a justificação judicial e bem como a justificação soberana. Deus no seu poder ele revoga a sentença de morte por um ato de justiça em Cristo Jesus que se oferece em nosso lugar, expiando a nossa culpa e também Deus perdoa o pecado de forma soberana. Há uma revogação de pena (morte eterna) e há cancelamento da multa (pecado), ou seja, tudo limpo, tudo novo. É completo!

A obra de Cristo na justificação imputa em um sacrifício completo, único e satisfatório para salvar a humanidade, toda humanidade.  O homem falhou em representar o reino de Deus na terra, mas Jesus Cristo ele cumpriu com a missão de resgatar até o primeiro homem Adão e com ele sua descendência, os herdeiros da promessa, que se estende a todos que assim o aceita-lo.
Assim podemos entender uma das principais diferenças no entendimento do pensamento Calvinista e o Arminiano quando abordamos a ordo Salutis  a "ordem da salvação".
A ordo calvinista começa com uma seleção divina incondicional de certos indivíduos para a salvação. Esta seleção divina dos que serão salvos recai sob a eleição e a predestinação.
A Ordo Salutis Arminiana toma a forma na Graça Preveniente, [União com Cristo] onde a justificação nos torna os eleitos de Deus em consequência da nossa identificação com Ele, recaindo sobre nós todas as bênçãos espirituais inerentes a Cristo.
A bíblia diz que Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça (Rom. 4:3). Pelo que isso lhe foi também imputado para justiça. Aqui não estava estabelecida a lei dada a Moisés, mas Abraão viveu por fé naquele que iria redimi-lo no tempo e torná-lo abençoado porque pelo ato de crê em algo acima dele, não alcançou pelo fato meritório, mas na misericórdia de Deus. A aceitação a justificação implica em identificar com ele que nos justifica tão somente, nisso está ser eleito para herdar as promessas divinas.
Vejamos então que afirmativa bíblica de que a que somos justificados somente pela fé.

2 – A REGENERAÇÃO

Define-se regeneração como "aquela grande transformação que Deus opera na alma quando a vivifica; quando ressuscita da morte do pecado para a vida da justiça. E a mudança efetuada na alma toda pelo Espírito Todo-Poderoso de Deus, quando é criada de novo em Jesus Cristo; quando é renovada de acordo com a imagem de Deus em justiça e verdadeira santidade" (Wesley, Sermão Sobre o Novo Nascimento).
Na bíblia o termo regeneração do grego αναγέννηση anagénnisi ou palingenesia dá sentido amplo como; “nascer de novo”, “novo nascimento”, “restauração” e “vivificar”, sempre utilizado para designar uma transformação interna no coração do homem, movido pela ação do Espírito Santo após a aceitação de Cristo pela fé.
Desde o antigo testamento as sagradas palavras já nos falavam da necessidade de reconhecer a depravação e recorrer a Deus como refúgio a salvação que dá início ao processo de mudança, como salienta o salmista quando diz; dar-me um novo coração puro e a renova em mim um espírito reto (Salmos 51:10). O mesmo afirmava Isaias entre os seus conterrâneos preste a viver o exílio, mostrando que Deus é aquele que vivifica o espírito dos abatidos e o coração dos contritos (Isaías 57:15).
No entanto o termo regeneração no novo testamento se torna transparente desde, (João 3), até (2 Coríntios 5:17; Efésios 2:5; 4:24; Colossenses 2:13; Tito 3:5; 1 Pedro 1:3,23).
As referências acima trás uma gama de significado que tem como instrumento dizer ao homem salvo que a mudança é necessária. O novo nascimento, ou seja, a regeneração muda moralmente à condição interior do homem com a ajuda do Espírito Santo que atua para exteriorizar física, emocional e espiritualmente novas atitudes e comportamento que louvam a Deus que o justificou por meio do sacrifício de Cristo.
Daí a diferença bem distinta entre justificação e regeneração: A justificação é Deus como juiz declarando o homem justo. Portanto por justificação entende-se o ato pelo qual Deus declara posicionalmente justa à pessoa que a Ele se chega através da pessoa de Jesus Cristo. Enquanto que a regeneração é obra sobrenatural que por meio do Espírito Santo passa habitar no crente, causando um relacionamento pessoal. 
Infelizmente alguns parecem não compreender a Regeneração tal como ela é, pois não se trata de batismo com agua ou na agua, que possui outra conotação mais simbólica conforme Ped. 3:21 diz-nos que o batismo não é a remoção da imundícia da carne, mas a indagação de uma boa consciência para com Deus. Por isso a Regeneração não é algo humano, mas é do Espírito Santo que trás a mudança necessária para uma vida nova, ainda que por séculos sustentaram esse conceito, como se fosse obra puramente humana através do conhecimento (gnose) intelectuando de forma racionalista aquilo que só vem existir pelo poder da verdade.
A Bíblia da ênfase para que o homem busque uma vida santa, para a regeneração que ocorre em função da verdade e na verdade lembrada pela ação contínua do Espírito Santo, que abre as portas da santificação que é o viver do crente, agora revestido. Importante frisar que na justificação a culpa é removida, mas a santificação depende da regeneração compreendida no novo nascimento, na aceitação limitada a "santificação inicial" para uma limpeza no coração e a preparação para implantação de uma vida nova.
Deus se revela tabernaculando em nós de forma testemunhar das maravilhas que opera no regenerado. A experiência humana está em Cristo revelado como a esperança da glória no viver transformado, onde foi permitida a aproximação, habitação e intimidade, revitalizando em todas as esferas saindo do apenas “de ouvir falar” para conhecê-lo melhor, libertando das amarras do pecado e triunfando como “mais que vencedor”.
Esta é a nova vida que o homem empreende para louvor de Jesus Cristo o seu redentor, também agora co-herdeiro nas promessas eternas, filiado a família de Deus.

3 - ADOÇÃO

Segundo o Dicionário, ”A adoção é o estabelecimento legal de um relacionamento de parentesco entre duas pessoas reconhecido como equivalente”.
Paulo diz em Gl 4.5: “a fim de que recebêssemos a adoção de filhos” afirmando Deus por meio de um ato após a nossa justificação em Cristo Jesus, assinou a certidão de um novo nascimento, onde ele é e assume o papel de nosso pai.  
O processo da adoção vai ocorrer no mesmo ínterim da justificação e regeneração, pois no início dessa reflexão afirmamos a sua interdependência. A adoção nos dá uma nova identidade de fato, somos integrados a família de Deus com amplo privilégio já estabelecido na promessa eterna, eleitos a viver especialmente na graça de Deus, que através de Jesus realizou a mais completa obra, como diz “...de restauração do homem ao seu estado original: aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo” (Rom. 8:23).
São muitos os privilégios quando tornamo-nos filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus (Gál. 3:26); Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo (Rom. 8:17). De sorte que já não é escravo, porém filho; e, sendo filho, também herdeiro por Deus (Gál. 4:7).
Dado privilégio da adoção, entendemos que como reflexo esse filho tem direito a uma herança, que podemos aqui exemplificar para nosso maior entendimento de dois modos; a física e a espiritual.
Quando da física, a adoção legitimada perante a lei que a determinou, que o afiliado a família pelo seu grau parentesco, tenha os direitos legais de um filho ou seu equivalente genuíno.
Quando da espiritual, a adoção legitimada pela inscrição do adotado no livro da vida, faz-se obrigatório a sua entrada no testamento da partilha dos bens disponível na vida eterna.
Tudo é vosso... e vós de Cristo, e Cristo de Deus (I Cor. 3:21, 23).
As benções espirituais são reais na vida eterna porque cremos, e também podemos usufruir de momentos especiais que nos antecipam a alegria de viver por Cristo e para ele, disseminando seu reino e fazendo crescer seu nome.
“....vocês foram selados com o Espírito Santo da promessa,
que é a garantia da nossa herança até a redenção daqueles que pertencem a Deus, para o louvor da sua glória” (
Efésios 1:13,14).
A palavra revela-nos que ele nos dar “garantia da nossa herança” quando somos selados na operação do Espírito Santo em nossas vidas até a inteira santificação, pois como outras referências que diz que “O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus” (Rom. 8:16) que é o valor da certeza de nova vida,  como é fato que muitos crentes terão experiências espirituais diferentes, mas que em todos os casos as transformações advindas de um comportamento guiado por Deus, trará o testemunho de que foi adotado, pela mera convicção do entendimento e certeza da esperança e fé, no Deus que ama e Salva.

 CONCLUSÃO.

Há um privilégio inesgotável para o crente, que pela vocação soberana de Deus, na sua infinita misericórdia, provisionou o plano da redenção humana para que o homem pudesse viver uma nova vida, viva e abundante e chamada à família celestial para reinar.

Por isso “a necessidade da justificação encontra-se no fato da culpabilidade; a da regeneração encontra-se na depravação; a da adoção está na perda de privilégio”.

Prevenientemente o Senhor ofertou sua graça!

Não duvidamos disso!

Rondineli da Silva Souza
Teologia Sistemática II


WILEY, H. Orton & CULBERTSONPaul T. Introdução à teologia cristã.

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